Uma noite normal na
delegacia, eu de porre, curtindo meu Scott 12 anos, tudo estava calmo para um
distrito policial. Sem nenhum movimento ou qualquer ocorrência para ser
realizada na minha pequena cidade do oeste da Guiana Francesa, na cidade de
Judith. Bem típico daqui, ainda que seja uma cidade no litoral com mais ou
menos 35 mil habitantes, uma cidade pacata com muitos turistas franceses
aproveitando suas férias, um lugar bastante cordial para pessoas que pretendem
se divertir sem passar por momentos difíceis. Já estava pensando em dormir
quando lembrei que teria que terminar o relatório do suicídio da senhora
La’cult. Uma senhora que foi encontrada em uma igreja com seu rosto
desfigurado. Uma investigação difícil, já que tínhamos certeza de que se tratava
de um homicídio, uma vez que seria pouco provável a própria senhora desfigurar
seu rosto de maneira tão macabra em uma igreja, principalmente. Os relatórios
da perícia foram bastante contundentes para o suicídio, foram avaliados os
respingos do sangue da vítima, ângulos do corte e o exame toxicológico
encontrou uma quantidade interessante de Diazepan, uma droga muito utilizada
para tratamento de pessoas que tem insônia e problemas relacionados à depressão
leve.
Todos os membros do
laboratório da perícia se empenharam ao máximo nesta investigação. Ainda bem
que a parte difícil fica com eles, nós só temos que colocar no papel para o
pessoal da corregedoria e suas malditas estatísticas. Pensando bem, sempre
gostei dessa parte fácil, antes de virar delegado trabalhei um pouco na rua,
depois foi para corregedoria e finalmente delegado. Tudo muito rápido e já
estou no cargo acho que a uns 20 anos, sem nada muito sério para fazer.
Voltando ao caso da senhora La’cult observei umas características que me
deixaram sem saber o que de fato teria ocorrido na cena do crime. O modo como o
corpo estava, olhei o relatório sobre os cortes da vítima e ficou claro que
indicava que a mesma fez aquelas perfurações e arranhões. Os cortes que foram
encontrados na vítima tinham profundidades diferentes, talvez pela perda da
consciência gradativa por conta do sangramento intenso. Foram encontrados
perfurações nas mãos de forma que era visível o outro lado, como as chagas de Cristo.
Era intensa a imagem, o que me chamou mais a atenção foi como o rosto teria
ficado daquela forma sem ter uma segunda pessoal no local. Minha assistente Bárbara achou que fosse um
crime com uma impressão, onde o assassino quer passar uma mensagem, uma
informação. Isso tudo foi muito pensado por nós, mas descartado com achegada
dos dados da perícia. A população da cidade ficou bastante satisfeita e tranquila
pela resolução desse caso.
Devo admitir que os
problemas que acompanharam esse crime foram de grande impacto para população,
todos estavam em uma espécie de transe, todos não acreditavam como aquilo teria
ocorrido em uma cidade tão calma e pacífica. Acredito que nosso trabalho para
desvendar e colocar um ponto final nesse suicídio, teve um efeito positivo na
população e em poucos dias a paz voltou a reinar na cidade.
– Carther, rápido
venha ver isso! – Bárbara aparece na minha porta de maneira ofegante e
atrapalhada. Como se tivesse alguma informação que não pudesse esperar para ser
dita. Fiquei bastante curioso com o fato dela ainda estar com uma impressão de
assustada e para assustar essa garota deve ser muito pesado mesmo, ela é faixa
preta em karatê e rainha do autocontrole.
– Qual o problema Barbie? – Sempre a chamo
assim quando quero irrita-la, não consigo resistir.
– O assassinato da
igreja... Apareceu uma nova... – Barbie falava como se o mundo tivesse a beira
de um colapso, ela não conseguia falar uma frase com sentido. – Apareceu um
corpo de uma mulher com as mesmas características do suicídio da igreja.
– Onde foi isso, droga?
– Pergunto de forma descontrolada e já tirando meu copo de Scott 12 anos na
mesa.
– Na adega Velmont
no caminho da colina – Ela anuncia ainda em estado de choque.
Desesperada,
a moça ainda estava sob o efeito da adrenalina da notícia, imagino eu que pelo
fato da mesma ter apostado em uma pessoa na cena do 1° crime. A adega Velmont
era uma fábrica desativada, pois o nosso país não é um bom produtor de uvas
destinadas para fabricação de bons espumantes e vinhos gourmet.
–
Rápido acione todos e o pessoal da forense. Quero todos na cena do crime.
–
Já fiz isso só faltava te informar.
Após
essa conversa fomos o mais rápido possível para adega, encontramos alguns
policias que já estavam lá e nos informaram como descobriram o corpo da
senhora. Ainda estava em estado de alerta máximo com o primeiro caso que
aconteceu, sentia cada vez mais uma trama a se desenvolver de um modo que
jamais entenderei. Acho que pela minha experiência com crimes e anos de
trabalho te dão um bom fundamento no desenrolar das situações críticas. Confio
em meus extintos desde quando comecei nesse trabalho, mas nunca teria desconfiado
de como uma situação isolada poderia se tornar tão problemática. Todos
acreditam que por mais que um crime seja banal não imprime nenhuma impressão ou
marca, lembro-me de quando sentia vontade de matar, sem nenhuma razão, esses
desgraçados que fazem o que bem entendem, só para suprir suas necessidades
malditas. O local do crime se encontrava de modo assustadoramente igual ao da
primeira, como poderia imaginar que uma situação tão peculiar poderia se tornar
um caso tão macabro.
– Barbie corra aqui, observe essas marcas.
– Indico como os cortes se encontravam diferentes dessa vez – As marcas dos
cortes estão na perpendicular ao invés da transversal.
– Será que isso foi uma imitação? – Ela
fala irritada como se alguém a estivesse sacaneando.
2 Comentários:
Parabéns pela produção, meu amigo!
Brigado!!!!
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